Super Bock em Stock: o primeiro dia

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Um passeio pela Avenida da Liberdade nos dias do Super Bock Em Stock teria sempre como resultado uma espécie de colagem de pequenas e grandes curiosidades, de acontecimentos imprevistos e coisas mais ou menos planeadas, de bons e maus momentos. E foi mais ou menos assim.

Jorge Palma

Começou com Jorge Palma às 21h30. Para quem não sabe, a estação de metro do Marquês de Pombal tem dois átrios separados, um que serve as linhas azul e amarela com entrada directa na rotunda, outro que serve apenas a linha azul a que se pode aceder apenas na Avenida da Liberdade (quem tem passe, escapa a estes pequenos percalços, já que pode atravessar a estação). A entrada não estava especialmente bem sinalizada, pronto.

Então lá cheguei ao Jorge Palma depois de toda a gente. Significa isto que não consegui sequer ver o homem, de tão cheio que estava o pequeno espaço que lhe foi destinado. Ouvi-o, é verdade, por entre conversas e operadores de câmara e fotógrafos em constante movimento, mas não o vi. Vi que pingava em cima do público, vi que as pessoas estavam a gostar da música… mas não o vi. Ouvi guitarra acústica e ouvi piano. Ouvi “Bairro do Amor” e “Dá-me Lume” e gostei.

Owen Pallett

Por volta das 22h, decidi enfrentar o frio e descer a caótica (pelo menos para os carros) Avenida da Liberdade até ao São Jorge para ver B Fachada. Antes, ainda arranjei tempo para ver o Owen Pallett a tocar dois temas. Dado que estou muito pouco (nada) familiarizado com a música dele, vou abster-me de comentar… mas parece-me que aquilo deve dar um concerto giro (esta praga dos concertos à base de sequenciador já irrita um bocado mas pronto). Um ponto em comum com Jorge Palma: sala cheia.

B Fachada

Depois veio a (minha) surpresa da noite. Daquelas boas. Conheço muito pouco (quase nada) da música do B Fachada – só o suficiente para embirrar com a voz dele mas, ainda assim, achar alguma piada àquela coisa meio festiva da música dele – e decidi arriscar. Neste concerto, no entanto, havia mais do que B Fachada. Havia a prometida participação especial de Sérgio Godinho, que acabou por proporcionar um dos pontos altos da noite aos que enchiam a sala 1 do São Jorge. A excelente e apropriadamente intitulada “Os Discos do Sérgio Godinho” deu o mote para um interessante encontro de gerações. Deste encontro, acabou por sobressair a cover de “Etelvina” a que Godinho assistiu sentado no palco (depois de ter ameaçado que, se a coisa corresse mal, haveria direito a chicote). Quando Sérgio Godinho saiu de palco, B Fachada disse “agora é que eu vou ver quem é que fica!” em tom de desafio. Pois que ficámos quase todos.

No seu todo, foi um espectáculo morno (the good kind of morno) – o lado festivo de B Fachada andou à porrada com o lado intimista e acho que a coisa acabou em empate.

Hollywood, Mon Amour

Depois de B Fachada, ainda faltava um bocadinho para o concerto de Kele. Pensei em ver os Lars and the Hands of Light mas a sala estava absolutamente cheia. Então fui até ao BES Arte e Finança, no Marquês, para ver aquilo que alguém descreveu como uma versão rasca dos Nouvelle Vague: Hollywood, Mon Amour. Não tinha assim tanto tempo em mãos. Ouvi duas músicas (uma delas era uma cover relativamente desinteressante de “Heart of Glass” dos Blondie) e fui-me embora. A sala tinha pouca gente e percebe-se porquê. Sono.

Kele

Lá fui eu outra vez até ao meio da Avenida da Liberdade para mais um concerto. Forçado à reflexão por uma amiga, fui-me perguntando como seria um concerto de Kele Okereke numa sala cheia de cadeiras como a do Teatro Tivoli. Depois do início do concerto, ficou a dúvida desfeita. Tudo de pé, tudo aos saltos, tudo moderadamente louco.

Eu não sei se gosto do que Kele tem feito a solo; acho que não. Mas – desculpem se isto não é suficientemente indie ou assim – gosto dos Bloc Party. O Silent Alarm foi dos meus álbuns favoritos de 2005 e, se o fosse ouvir agora (não vou), perceberia porquê. Pois que Kele a solo tem só um bocadinho daquela urgência dos Bloc Party e nenhuma das guitarras (vá, não é bem verdade). E se as canções de Kele até não soam mal de todo ao vivo, em álbum soam vulgares. É possível que essa vulgaridade desapareça com o volume, não sei. Pergunto-me se será um problema mais genérico da música electro… mas não deve ser.

Pronto, é altura de admitir que Kele se transformou num animal de palco. Desapareceu a postura meio tímida que apresentava nos concertos da banda e surgiu algo novo, mais in your face, mais alfa. E por isso ele correu e dançou que se fartou de uma ponta à outra do palco e de uma ponta à outra do teatro.

Relativamente à música propriamente dita, um dos destaques vai certamente para “Tenderoni”, o single da estreia a solo do músico britânico. Mas Kele tem memória e o público tem memória. Assim, houve direito a um medley de Bloc Party com uma música de cada álbum: “Blue Light”, coisa anteriormente calma meio transfigurada e sem piada, “The Prayer”, um pouco mais cheia mas não radicalmente diferente do que já conhecíamos, e a praticamente igual “Flux”.

Haveria ainda direito a mais uma de Bloc Party, desta feita a fechar a noite, depois de Kele se ter aventurado numa cover de “Goodbye Horses” (Q Lazzarus). “This Modern Love” terá sido para muitos o ponto alto da noite e a melhor forma de fechar um concerto surpreendentemente bom.

Wavves (ou não)

Apesar de nunca ter entrado na histeria em torno dos Wavves, estava curioso para os ver. Mas era eu e muito mais pessoas. Faltavam 20 minutos para o concerto e havia uma enorme fila para o parque de estacionamento do Marquês de Pombal. Estava fresquinho. Desisti.

Venha de lá o segundo dia.