3 coisas em que as editoras não devem gastar dinheiro

As editoras têm vindo a perder receitas ao longo da última década. Uma das muitas razões para que isto aconteça é tão simplesmente o que fazem ao dinheiro. A adaptação das editoras ao mercado tem sido muito difícil mas parece que as coisas começam a estabilizar (que é como quem diz “estão a perder menos dinheiro”). No entanto, ainda há muito dinheiro mal gasto.

1 – DRM

Apostar em tecnologias de gestão ou restrição de direitos digitais para evitar a pirataria é praticamente o mesmo que tentar apagar toda a pornografia da Internet (a um ritmo de uma foto de cada vez). É uma inutilidade por dois motivos: primeiro, porque ainda está para ser inventado a forma de DRM que resulte realmente; depois, porque a partilha de ficheiros é uma oportunidade fantástica para todos os agentes da música e tem sido simplesmente diabolizada e mal aproveitada pelas editoras. Por exemplo, teria a Universal vendido cinco mil cópias em Portugal do Neon Bible dos The Arcade Fire nas primeiras semanas se não fosse a partilha de ficheiros? Não.

2 – Micro-sites

Este é um dos meus favoritos. De tempos a tempos, lá surge a ideia de se fazer um micro-site para uma banda por altura de um lançamento específico. Parvoíce. Sites pequenos, vazios e sem grande interesse; a única utilidade que têm, se alguém se lembrar disso, é possibilitar o registo para receber uma newsletter ou mais informações sobre a banda. Os micro-sites só muito dificilmente fazem sentido. Tem de ser divulgado pelos canais tradicionais para que as pessoas lá cheguem, porque ninguém associa o micro-site à banda, inclusivamente o Google (isto é, se pesquisarem pela banda, não vão, as mais das vezes, parar ao micro-site). Acima de tudo, um micro-site não tem mais-valia nenhuma. Nenhuma mesmo. E custa dinheiro.

3 – Publicidade

A publicidade custa muito dinheiro para aquilo que vale. Não é tão inútil como o micro-site, claro, mas é cara. Quantos de vocês já compraram um álbum de uma banda nova por causa de cartazes em taipais das obras? Nem falo das outras, que ainda menos dependem desta forma de divulgação porque já têm história. O que é que me faz comprar um álbum de uma banda nova? O single, as críticas, o download e a informação relativa ao lançamento. Mais nada. O que me faz comprar um álbum de uma banda que já por aqui anda há algum tempo? O single, as críticas, os álbuns anteriores, o download e a informação relativa ao lançamento. O que é que não influencia absolutamente nada a minha escolha? Anúncios em jornais, revistas, rádio, televisão, Internet e outdoor. Invistam antes em relações com os media, que conseguem muito mais por muito menos. A Web tapa os buracos (e reparem no contra-senso).

Depois de promover investimentos pouco habituais para as editoras, isto sou eu a tentar compensar. Os três exemplos referidos são destinos mais ou menos habituais do dinheiro das quatro principais editoras. Para mim, estão na mesma liga do acto de deitar dinheiro à rua.