Dar valor ao álbum: sinergias

A indústria discográfica tem reservas quanto a determinado tipo de acordos que até poderiam ser boas opções. Uma das tendências que desapareceu, por exemplo, foi a do apoio activo à divulgação de concertos e digressões dos seus artistas. O facto de as editoras terem deixado de apoiar as promotoras de concertos nesta área foi uma espécie de demissão, de desresponsabilização. É certo que as editoras não ganhavam directamente pelo apoio que davam mas é óbvio que ganhavam alguma coisa.

Percebo as reservas. Ainda assim, seria interessante que existisse uma procura de alternativas mais viáveis e atractivas. É sabido que as editoras andam a tentar controlar agenciamento, merchandising e afins para além do habitual contrato discográfico, pelo menos no que aos artistas novos diz respeito. No caso dos outros, a solução poderia ser o estabelecimento de verdadeiras parcerias de médio prazo com outros agentes da música ou de outra área que faça sentido. Teriam de ser parcerias naturais, claro. Por exemplo, se a empresa faz agenciamento de artistas, não faz sentido contribuir por outro lado.

Para além disto, há os projectos multimédia. No caso de algumas das majors, é tão fácil de fazer certas coisas resultarem que é quase ultrajante. Produção e transmissão televisiva, rádios, produção de cinema e edição discográfica são comummente partes de um mesmo bolo corporativo. Isto acontece com a Universal Music, por exemplo, mas também está a começar a acontecer com a Sony, que já detém a ex-SonyBMG na totalidade. A um nível nacional, Floribella e D’zrt são bons exemplos. A música é terrível, como sabem, mas a verdade é que são máquinas de fazer dinheiro. São projectos orquestrados recorrendo à televisão que depois dão o salto para a edição discográfica e que, com promoção em rádio, televisão e outdoors, por exemplo, acabam por ser muito bem sucedidos. Para além disto, acabam a fazer bateladas de dinheiro graças ao merchandising (que, nos casos destinados a um público-alvo infantil como os que referi, inclui tudo e mais um par de botas). A SIC fez isto com a Floribella sobretudo através de parcerias; já o Grupo Media Capital, incluiu diversas empresas suas: TVI, NBP, Farol Música, Media Capital Outdoor (que agora já não faz parte do grupo), Media Capital Rádios e Media Capital Edições. Resultou muito bem em ambos os casos.

Mas será que isto só dá para fazer com música má? Claro que não. Nos Estados Unidos, os milhares e milhares de dólares envolvidos nos negócios entre editoras discográficas e produtoras de televisão para a inclusão de canções em séries provam-no facilmente. Há muita editora independente a jogar este jogo. E rende.

Para além disto, há a Web, onde se começa a ver já algumas iniciativas interessantes, até porque os serviços que vão surgindo, sobretudo os mais pequenos, são muito agressivos comercialmente, o que tem tido bons resultados para eles. Depois há sempre MySpace, Vimeo, Last.fm, Rcrdlbl e outros, que ajudam.

Quando se detém várias empresas nestas áreas, as vantagens são óbvias. Não é obrigatoriamente vantajoso para os nossos ouvidos (pelo menos no caso português)… mas se permitir às editoras ganharem mais uns trocos para depois meterem coisas boas cá fora, não sei se me importo assim tanto. Mas ainda é preciso limar algumas arestas.