Já vem tarde

Ane Brun

Ane Brun já não é propriamente uma miúda. Não que seja muito velha – e não é, já que tem apenas 32 anos – mas porque já anda nestas coisas da música há uns anos valentes. Segundo a Wikipédia, só aprendeu a tocar guitarra aos 21 anos (começou tarde para o que é habitual) mas uns dois ou três anos depois já andava por Espanha a actuar na rua (tendo em conta que ela é norueguesa, é um facto relevante). Entretanto, lançou uns quantos álbuns, singles e EPs que me passaram completamente ao lado – não como em “não gostei” mas como em “não olhei para eles e dificilmente ouvi falar dela”.

Agora choquei de frente com Changing of the Seasons, o quarto álbum de originais de Ane Brun, e não há como fugir. Fui completamente desarmado de todos os preconceitos que tenho contra descrições hiperbolizadas – e há muitas! – de cantautoras escandinavas. É que Changing of the Seasons funciona de todas as formas e feitios: é coisa para ouvir em regime de exclusividade durante quarenta minutos mas também deixa que um livro lhe passe à frente sem mau perder; funciona como um todo mas também nos dá alguns momentos que podemos repetir muito rapidamente quando não temos tempo para tudo (ou quando estamos demasiado viciados numa mão cheia de canções).

“The Treehouse Song”, a primeira canção, abre caminho com alguma facilidade e, a partir deste momento, já não há nada a fazer. “Ten Seconds” e “Changing of the Seasons” ficam simplesmente gravadas na memória, “Raise my Head” tem uma presença muito forte… e depois há “Gillian”, provavelmente a melhor do álbum. Quase tudo funciona com base na guitarra acústica, no piano e nas vozes (a da frente e as dos coros); depois há arranjos de cordas sublimes que fazem com que Changing of the Seasons não possa passar despercebido a quem se aproxima dele.

É, até agora, um dos álbuns do ano. E um dos mais bonitos, de certeza.

Esta versão de rua de “Changing of the Seasons”, que descobri entretanto no site oficial de Ane Brun, é a introdução perfeita.