Beats Music: é mesmo preciso mais um serviço de streaming?

O que é que Dr. Dre, Trent Reznor e Jimmy Iovine, da Interscope, andam a fazer juntos? Pelos vistos, um serviço de streaming de música chamado Beats Music. Com lançamento agendado para 21 de janeiro, o mais recente concorrente do Spotify e do YouTube estará para já – e como seria de esperar – disponível apenas nos Estados Unidos.

O que trará o Beats Music de novo a este mercado em que tantos parecem ter algo a dizer?

Curadores para todos os gostos (deles)

Uma das grandes apostas do Beats Music para o lançamento é a curadoria de música feita por autoridades musicais como antigos DJs de rádio, editores de sites de música, pessoas da indústria e publicações de renome, como a Rolling Stone ou o Pitchfork. Como é óbvio, isto não é rádio, pelo que os utilizadores podem fazer a sua vida sossegados. Mas fiquem a saber que podem explorar o catálogo do Beats Music tendo em conta vários parâmetros… e um deles é o curador.

Tenho sérias dúvidas sobre esta aposta na curadoria. É que, numa altura em que, para o bem e para o mal, no que diz respeito à música, o povo é quem mais ordena, isto parece-me simplesmente arrogante. Eu sei que, pronto, o Ouve-se é um blog de música e, nesse sentido, tenta recomendar música e convencer as pessoas a ouvi-la (tal como qualquer outro site, revista ou amigo!). Mas isto é outro nível, é um regresso aos gloriosos tempos da rádio. E quem são os interessados nisso? Bem, os românticos da rádio e, possivelmente, as editoras (se o termo “payola” não vos diz nada, investiguem). Nada contra uma rádio 2.0 mas… não, obrigado.

Personalização (um bocadinho creepy mas pronto)

Além dos curadores profissionais, o serviço aposta ainda na personalização. O Beats Music recomenda, várias vezes ao dia, playlists e álbuns com base nos vossos gostos pessoais, estados de espírito e uma série de outros parâmetros (alguns deles um pouco creepy, como a localização e a companhia). A ideia é dar aos utilizadores uma forma de terem facilmente música para todo o tipo de ocasião.

Gosto bastante deste ponto mas não o vejo realmente como uma novidade. Enquanto o Last.fm existir, estou satisfeito. Mas de qualquer forma, até o Spotify já o faz com alguma competência.

Um modelo de negócio um bocadinho diferente

Duas das grandes diferenças do Beats Music relativamente aos outros serviços estão relacionadas com o modelo de negócio. Uma delas prende-se com o facto de não haver uma subscrição gratuita suportada por publicidade. Quem quiser usar o Beats Music vai mesmo ter de pagar a mensalidade de 10 dólares.

A outra diz respeito ao pagamento aos detentores de direitos que, segundo os responsáveis pelo serviço, terá um valor igual para todo o tipo de artistas, da Madonna ao Filho da Mãe. Segundo o Digital Music News, é provável que o pagamento por stream seja mais elevado do que o habitual, exatamente devido à não existência de uma subscrição gratuita, que obriga os outros serviços a um maior esforço financeiro (que, em teoria, deveria ser suportado pelas receitas publicitárias, claro).

De qualquer forma, eles não dão pormenores sobre o pagamento a artistas. Faz sentido. Mas os pormenores hão de surgir à mesma nos próximos tempos.

Conclusão: o Beats Music chegou atrasado à festa e trouxe bebida só para ele

Parem de ler este artigo e vão ler o do sempre irritado Bob Lefsetz. É que o tipo acerta em todos os pontos. Sobretudo em dois:

1. Isto da curadoria é muito bonito e romântico mas ninguém quer realmente curadores (a não ser os candidatos a tal).
2. No streaming, a luta parece ser cada vez mais a dois, entre YouTube e Spotify.

Continuo a achar que a Apple e a Amazon ainda podem ter uma palavra a dizer mas os novos players vão ter de se esforçar muito mais do que isto se quiserem aguentar-se.