Descobrindo James McMurtry

James McMurtry

Não conhecia a música de James McMurtry. Não tinha sequer ouvido falar dele. Mas bastou um minuto de “Copper Canteen” para me convencer. E entretanto cheguei à conclusão de que Complicated Game é um dos melhores álbuns do ano no eixo folk – country – americana.

James McMurtry não é nenhum miúdo. Tem 53 anos e lança álbuns desde 1989. Não posso falar-vos deles porque não os conheço mas posso dizer-vos que não posso esperar para começar a explorá-los.

Mas foquemo-nos em Complicated Game, para já. O álbum faz-nos entrar num mundo de histórias vívidas contadas e cantadas por McMurtry. Tão vívidas que às tantas parece que estamos a vê-las. E este é o grande trunfo de Complicated Game e de James McMurtry: conseguimos ver as coisas a acontecerem, conseguimos sentir os cheiros, é como se estivéssemos lá. Já me cruzei com uns quantos álbuns assim mas não é habitual.

Não é pela densidade das histórias, é por recorrer a uma certa poesia simples de lugares e acontecimentos, por mais banais que sejam. São eles que dão cor às histórias cantadas por James McMurtry.

É óbvio que a voz quente dele e os enfeites country, desde o banjo às harmonias vocais, passando pelos violinos, também ajudam. As imagens dignas de uma qualquer pequena cidade americana como aquelas que nos foram impressas no cérebro por milhares de filmes ao longo de anos fazem o resto. E é aqui que tenho de voltar a “Copper Canteen”, o aparentemente amargo tema de abertura de Complicated Game.

São histórias de contenção, esperança, desespero e amor, histórias sobre personagens e problemas típicos de comunidades pequenas e grandes, de qualquer tipo de pessoa. Todos conseguimos identificar-nos com aquilo de que James McMurtry fala. A melancolia que acompanha grande parte das canções completa o quadro.

Mas nem só de músicas melancólicas vive Complicated Game. “How’m I Gonna Find You Now” deixa-nos à nora com a luta entre banjo, guitarra e bateria. E “Ain’t Got A Place”, por exemplo, mantém o discurso de pessoa do campo mas muda-lhe as roupas. De repente, parece que ele nem quer saber.

Mas é nas histórias alimentadas pelo passado e pela guitarra acústica que James McMurtry melhor trabalha. “South Dakota”, “Long Island Sound” e as companheiras de road trips “You Got To Me” e “She Loves Me” são tão boas que uma pessoa fica sem saber o que fazer… até se lembrar de que pode simplesmente ouvi-las outra vez.

Arranjei a companhia perfeita para as minhas tardes quentes de verão. E talvez me lembre de Complicated Game lá para o final do ano, em pleno Inverno, na altura de fazer listas.