Festivais portugueses: ainda há artistas por confirmar?

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Arcade Fire, Bruce Springsteen, Radiohead, AIR, Robert Plant e LCD Soundsystem são os nomes mais recentes.

Aparentemente, para um promotor, fazer um concerto isolado numa sala é cada vez menos interessante. Para quê, quando pode simplesmente arranjar mais dez artistas e pô-los a tocá-los durante 40 minutos ou uma hora no mesmo dia? Vende muito mais bilhetes assim, o custo por concerto diminui e o risco financeiro também. E as pessoas ficam contentes, também.

É difícil, por exemplo, olhar para o cartaz incompleto do NOS Alive e não ficar impressionado: além dos Radiohead, Robert Plant e Arcade Fire, há Pixies, The Chemical Brothers, Tame Impala, Hot Chip, Father John Misty, M83 e mais uns quantos. Está ali um bom festival, não há dúvidas.

Os outros, mesmo que sejam um pouco menos interessantes, têm os seus atrativos: Kendrick Lamar e The National no Super Bock Super Rock, Elton John no MEO Marés Vivas, LCD Soundsystem no Vodafone Paredes de Coura, Bruce Springsteen e Queen no Rock In Rio e sabe-se lá o que vai sobrar para o NOS Primavera Sound depois do anúncio do alinhamento da versão catalã do festival (Sigur Rós, PJ Harvey, Brian Wilson e Animal Collective são algumas hipóteses, além dos já confirmados AIR).

E as salas, meu?

A quantos concertos fora de festivais foram no ano passado? Presumo que a menos do que em 2014, 2013, 2012 e por aí abaixo. É que, apesar de a Everything Is New, produtoras mais pequenas como a UGURU e salas como a Zé dos Bois, em Lisboa, ainda puxarem um bocadinho pelo mercado dos concertos em nome próprio, não é surpresa nenhuma ver que a Música no Coração, por exemplo, está exclusivamente focada no mercado dos festivais – pelo menos a julgar pelo facto de não haver um único concerto agendado pela promotora. Mais até do que a Ritmos & Blues, que mantém a sua aposta em poucos (mas grandes) eventos – este ano já trouxeram a Portugal Bryan Adams e têm os Il Divo agendados para junho.

Economicamente e no curto prazo, arrisco dizer que a aposta em festivais faz todo o sentido. Um festival como o NOS Alive, por exemplo, é cada vez mais um ponto de passagem obrigatório no circuito europeu e tem contribuído para, pelo menos durante uns dias, trazer mais turistas a Portugal, o que em teoria é bom.

As minhas reservas relativamente a esta estratégia – não tanto pelo NOS Alive em si, mas sobretudo porque está toda a gente a fazer o mesmo – têm a ver, por um lado, com os meus hábitos enquanto consumidor e, por outro, com a visão de longo prazo das promotoras.

O primeiro argumento é mais importante para mim, mas percebo que não o seja tanto para vocês. E é simples: não sei se vamos, no geral, continuar a gostar tanto de festivais como atualmente. Já muitas pessoas – entre as quais me incluo – olham para os festivais como um mal menor. A lógica do mal menor: é pior não ver esta banda ao vivo do que vê-la num festival. Percebe-se, certo?

O segundo argumento é um bocado mais complicado e tem a ver com a forma como os diferentes festivais usam uma lógica semelhante à dos saldos para atrair público. Todos os anos se esboça uma guerra entre promotoras para ver quem consegue trazer os melhores nomes e, consequentemente, atrair mais pessoas. Tudo pelo mesmo preço, tudo com melhores ofertas. O que acontece ao Super Bock Super Rock quando não consegue um número suficiente de bons nomes? Fica às moscas. E o motivo é simples: não tem qualquer identidade. E se Paredes de Coura e o Primavera Sound ainda conseguem resistir mais ou menos a isso, o mesmo não se pode dizer de festivais como o Marés Vivas ou o defunto Delta Tejo.

Há inúmeros bons exemplos: Milhões de Festa, Amplifest e FMM são apenas alguns. Raios, até os do surf e o Sudoeste têm identidades bem definidas. Mas não estão a roubar artistas às salas. Pelo contrário, estão a trazer novos nomes a Portugal. O arrastão de festivais como o NOS Alive, o Super Bock Super Rock, o NOS Primavera Sound e o Vodafone Paredes de Coura sim. Sobra pouca coisa para o resto do ano. Sobram poucos concertos com condições ideais para artistas e público. E o mercado da música ao vivo perde qualidade. E isso acabará por ser determinante para o sucesso das próprias promotoras.

Mas enquanto esta tendência se mantiver, cada vez teremos menos oportunidades de ver como deve ser artistas como os que os principais festivais têm vindo a anunciar. Resta-nos treinar os cotovelos, o pescoço, o fígado, a bexiga, a carteira e a paciência até não dar mais.