The Tallest Man On Earth na Aula Magna: uma primeira vez diferente

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O primeiro concerto do sueco em Lisboa foi estranho e emocional.

Kristian Matsson nunca tinha tocado em Lisboa. Se é possível dever alguma coisa a pessoas de quem nunca se ouviu falar, então posso assegurar-vos que ele nos devia há muito um concerto de The Tallest Man On Earth. O que aconteceu este sábado na Aula Magna foi tão simplesmente a natureza a pôr as coisas no sítio certo.

Kristian Matsson nunca tinha tocado em Lisboa, mas foi em Portugal que começou a compor Dark Bird Is Homeum álbum cheio de dor e canções incríveis, porque foi nesse fim do mundo chamado Sagres que ele e a mulher decidiram divorciar-se. “Decidimos nessa terra que o melhor era cada um seguir o seu caminho”, disse há dias em entrevista ao Diário de Notícias. Também falou disso na Aula Magna, mas já lá vamos.

O concerto de The Tallest Man On Earth começou a horas, depois de uma primeira parte bastante competente de The Tarantula Waltz (ou Markus Svensson, se preferirem), e começou bem – com a semi-acústica e energética “Wind And Walls”. Vestido de preto da cabeça aos, er, tornozelos (os sapatos eram castanhos, bordeaux ou algo por aí), Kristian Matsson surgiu em palco bem acompanhado pela sua banda – banda essa em que se destacava Mike Noyce na guitarra e no violino (e nos Bon Iver, já agora). Mais expressivo do que seria de esperar de um sueco – mesmo de um que parece ter sido parido pelo sul dos Estados Unidos -, o vocalista, guitarrista e mestre de cerimónias mostrou desde cedo que estava ali para dar um espetáculo. Um cheio de canções tristes, momentos deprimentes e até algum desconforto, mas um verdadeiro espetáculo. Diria que ninguém foi apanhado de surpresa.

Dadas as circunstâncias, a banda não tinha motivos para poupar na amplitude do alinhamento, que esteve mais focado em Dark Bird Is Home, o último disco, mas que se espalhou por todos os discos editados por Matsson.

“Fields Of Our Home”, “Seventeen” e as gigantes “Darkness Of The Dream” e “Sagres”, antes da qual Kristian Matsson aproveitou para dar algum contexto ao álbum, foram os temas que mais se destacaram entre os escolhidos para apresentar o disco mais recente, mas foram as viagens ao passado que mais entusiasmaram o público. A muito desejada “Love Is All”, “The Wild Hunt” e a perfeita “The Gardener” foram alguns dos momentos altos do concerto e nem precisaram de banda (ou, se preferirem, não fazia sentido nenhum haver banda). E o que eu andava desejoso para ouvir “The Gardener” ao vivo.

Houve muito mais: “1904” e “Revelation Blues”, de There’s No Leaving Now, destacaram-se das demais, bem como “Thousand Ways” e a divertidamente country “King Of Spain”, de The Wild Hunt, em que a banda brincou um pouco com os pedidos do público através de um pequeno teatro pré-canção em que o tema era “se calhar não sabemos tocar essa canção”. Não só sabiam como partiram tudo. Yee-haw.

Houve mais: “I Won’t Be Found”, de Shallow Grave, foi perfeita e uma espécie de raridade nos dias que correm. Parece que valeu a pena esperar.

Tivemos direito também a pedidos do público – Matsson correu para o meio da plateia para tentar perceber um dos pedidos que lhe fizeram, que isto de portugueses a falar inglês com um sueco (e vice-versa) nem sempre é simples. Não posso dizer que tenha visto bem, mas tenho quase a certeza de que houve quem tivesse direito a mais do que isto, já que me pareceu que ele beijou uma rapariga nos doutorais. Ainda dizem que não vale a pena pagar por aqueles lugares.

Infelizmente, também tivemos direito a palmas totalmente inoportunas e difíceis de explicar em vários momentos do concerto. Aliás, o único ponto negativo na noite foi provocado pelas duas ou três pessoas que decidiram acompanhar a belíssima e emocional “Dark Bird Is Home”, que encerra o álbum com o mesmo nome e que fechou o set principal, com… palmas. Apesar de mais ninguém o fazer. Apesar de ser uma canção cheia de silêncios. Apesar de o artista ter pedido para pararem de acompanhar com palmas uma canção sobre o seu divórcio. É de deixar um tipo perplexo, mas pronto. Felizmente, a canção mais do que chegou para isso. Aquela explosão final já é uma delícia no álbum. Ao vivo e prolongada pela banda? Podia ter durado para sempre, que eu não me importava. O concerto teria valido a pena só por isso. E podia ter acabado ali.

Mas não acabou, a banda regressou para um cabrão de um encore com “The Dreamer” e “Like The Wheel”, sacadas do baú para deixar toda a gente satisfeita. É redundante, mas The Tallest Man On Earth encheu certamente as medidas de quem presenciou aquele concerto na Aula Magna. E é bem possível que fique para sempre como aquele concerto. É que promete ser difícil de esquecer.