Passeio das Virtudes: pop, mas pouco

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Os portuenses Salto editaram um álbum denso, mas pouco memorável.

Os Salto apareceram por aí em 2012 com um álbum homónimo e um single do caraças chamado “Deixar Cair”. A etiqueta da mala do duo portuense trazia escrito coisas como “pop eletrónica” e “cantado em Português” e o álbum escorria otimamente.

Passaram quatro anos, o duo passou a quarteto e a música agora é outra. Não fosse a voz facilmente identificável de Guilherme Tomé Ribeiro e, tanto quanto consigo dizer, Passeio das Virtudes podia ser um álbum dos Pulo ou coisa que o valha.

As guitarras e os sintetizadores continuam lá, mas as coisas complicaram-se. Quase todas as canções de Passeio das Virtudes são mais complexas e desafiantes do que o material anterior da banda. Em boa verdade, no entanto, também se pode dizer que a maioria é pouco memorável. Mas posso estar enganado.

Não falta virtude técnica aos Salto, pelo que os tradicionais 40 minutos de duração do álbum passam bastante bem. A sensação com que fico, de resto, é-me bastante familiar. Ouvir Passeio das Virtudes é como ouvir aquele novo álbum bom daquela banda que fez aquele clássico: ouve-se bem, percebe-se que é bom, faz-se o esforço extra por isso mesmo, mas o clique nunca chega a acontecer.

Não quero com isto dizer que Salto, o álbum, seja um clássico. Longe disso. Mas prometia uma festa pop de alto nível um dia destes. Passeio das Virtudes, por seu lado, promete-nos bons concertos. Tem mais do que argumentos para isso no tema de abertura “Queimo As Mãos Pelo Futuro”, na faixa-título, em “Uma de Cada Vez” e na dançável (e possivelmente mariscável) “Lagostas”. E o resto dá tranquilamente para abanar o pé, a cabeça e o que mais quiserem abanar – até alguns dos temas instrumentais.

Mas por mais sintetizadores, tempos lixados, linhas de baixo e riffs bem sacados que os Salto nos deem, não nos dão aquela pop inclusiva e arrasadora que eles podem dar-nos. E estou convicto de que era essa a principal qualidade deles.

Passeio das Virtudes é um osso duro de roer. É intelectualmente estimulante e as letras complementam bastante bem o pacote musical. Aparentemente fora da zona de conforto (com a exceção da voz, que se torna cansativa por viajar sempre pelos mesmos registos), é um álbum interessante. Mas posso dizer com algum grau de certeza que também está longe de ser indispensável.