Crítica: Sleeping In A Car, de The Staves

The Staves - Sleeping In A Car

Um EP inspirado pela vida na estrada e produzido por Justin Vernon.

Depois de If I Was – o quinto melhor álbum do ano para o STROBE – ter posto as The Staves definitivamente no mapa, as três irmãs britânicas não quiseram ficar quietas em 2016 e editaram há poucas semanas um novo EP intitulado Sleeping In A Car.

Em equipa que ganha não se mexe e Justin Vernon ficou, à semelhança do que tinha acontecido em If I Was, responsável pela produção do EP. E se a influência da mente por trás de Bon Iver se tinha notado perfeitamente no álbum, agora faz-se sentir ainda mais. O facto de as The Staves terem feito praticamente parte dos Bon Iver nos últimos meses, emprestando as suas vozes aos concertos da banda, contribuiu certamente para que a relação se aprofundasse. É também essa vida em digressão que serve de inspiração ao EP – o título, de resto, já dava algumas pistas a este nível. Parece ser um disco sobre a saudade, mesmo que elas não saibam o que isso é.

Composto por apenas três canções, Sleeping In A Car não é totalmente claro acerca do caminho que a banda vai seguir, mas é um agradável exemplo da situação em que está. Com as irmãs Staveley-Taylor menos investidas em manter as suas harmonias vocais no centro durante o tempo todo, sobra espaço para brincar com os conceitos explorados anteriormente e torcê-los um bocado: das referidas harmonias vocais à percussão, passando pela utilização moderada de sintetizadores.

Sleeping In A Car é, até certo ponto, uma extensão de If I Was – uma espécie de híbrido folk/pop que só dificilmente pode ser descrito como uma ou outra isoladamente. Esta impressão surge logo em “Outlaw”, o tema de abertura em que a banda se dedica a experimentar formas diferentes de entrelaçar as vozes – há menos harmonias perfeitas e uníssonos, há um bocadinho mais de selva.

A balança equilibra-se em “Roses”, a mais tradicional das canções neste EP. Mas, se o calor do ukulele nos leva de volta aos tempos de Dead & Born & Grown, o álbum de estreia editado em 2012, os salpicos de sintetizador e aquela tarola reminescente das power ballads dos anos 80 que visita a música lá para o meio garantem-nos, ironicamente, que o tempo não volta para trás.

E a melhor das provas vem a seguir.

“Sleeping In A Car”, tema que dá nome ao EP, fecha o disco e fá-lo lindamente. As belíssimas harmonias e o económico piano, juntamente com a bateria irrequieta e a espécie de duelo de vozes distorcidas que nos chega aos ouvidos quando a música cresce, fazem a música. E é das melhores coisas que já fizeram.

Para um EP com apenas três canções, Sleeping In A Car é surpreendentemente satisfatório. Talvez porque não exige um grande compromisso de tempo, talvez porque não tem qualquer espécie de música de enchimento. Mas tem aquele problema típico dos EP: quanto melhor é, mais nos põe a pensar num novo álbum. E agora?