Um ano e meio é muito tempo. Este último, especificamente, pareceu durar uma vida inteira.

Não parei de escrever sobre música por ter havido uma pandemia, mas acabei a fazer-lhe companhia cá em casa. O tempo que o grande acontecimento de 2020 me deu foi-me tirado pelas suas consequências, pelo inevitável avanço do tempo e pela minha velha amiga inércia (ela manda um beijinho). No entanto, não é algo que me arrelie por aí além. O que este blog perdeu em atualizações, ganhei eu noutras áreas da minha vida. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma e por aí fora.

Além disso, disse o que tinha a dizer sobre música para quem quis ouvir, sobretudo através das minhas participações no Rádio Defusão, um podcast muito bonito que, entretanto, estará na oficina durante algum tempo.

Mas, como dizia, um ano e meio é muito tempo. E, apesar de eu ser um tipo relativamente estável (aborrecido) em termos musicais (e em tudo o resto), fiz como Pedro Santana Lopes e… andei por aí. E tanto andei que acabei por chegar a Taylor Swift.

Uma simples pandemia

Se sempre tive, à distância, um fraquinho por “Blank Space” e “Shake It Off”, de 1989, a minha experiência com Lover, em 2019, não faria antever um 2020 tão… swifty. É que “Cruel Summer” e “The Archer”, só por si, não conseguem aguentar um álbum tão longo. Mas não foi preciso. Bastou uma pandemia fechar uma das maiores estrelas pop em casa e o assunto resolveu-se por si.

O que é que me arrebitou as orelhas? Naturalmente, o anúncio de que Taylor Swift iria lançar um álbum (dali a umas horas) co-produzido por Aaron Dessner, dos The National, que incluía um dueto com Justin Vernon, de Bon Iver. O mundo estava virado do avesso e esta notícia era a prova de que vinha aí o fim dos tempos. Mas não veio. O que veio foi Folkore.

E que belo álbum é. Como seria qualquer um que tivesse no alinhamento coisas como “Mirrorball”, “The Last Great American Dynasty”, “Exile”, “August”, “Illicit Affairs” e “Betty”.

Como se isto não bastasse, tivemos direito a encore: um álbum apropriadamente intitulado Evermore, com mais canções produzidas por Aaron Dessner e mais um dueto com Justin Vernon.

Demasiado tempo livre? Talvez. Vão ouvir-me queixar? Não.

O efeito-surpresa foi menor e, consequentemente, a receção dos fãs e da crítica também foi menos… exagerada. Mas Evermore é uma boa sequela. A secção final é particularmente feliz, com “Ivy”, “Long Story Short”, “Marjorie” e “Evermore” a prepararem o ouvinte para repetir a dose.

Quantidade não é qualidade, mas às vezes calha ser

Sempre fui particularmente vulnerável a encaixes perfeitos de letras em músicas e ela domina essa arte como poucos. Portanto, não pude senão deixar-me levar por essa harmonia, pelo ritmo, pela voz e, claro, pelas canções. Passei tanto tempo a ouvir Taylor Swift no último ano e meio.

Este meu despertar deu-me a desculpa perfeita para revisitar coisas como Fearless (o álbum que lhe abriu as portas da pop) e Red (o álbum que a pôs no trono) e eu não me fiz rogado. O mesmo se pode dizer dela, que, depois de Folklore e Evermore, lançou Fearless (Taylor’s Version) já em 2021 – uma nova versão em quase tudo igual à original, exceto numa coisa: os masters são dela (e, vá, traz músicas adicionais que ela foi buscar ao baú). Esta power move será seguida de outras, mas nada impressiona mais do que a sua capacidade de pôr coisas na rua. Coisas boas, entenda-se.

E está a chegar a um ponto absurdo. Agora até os Big Red Machine lançam canções com Taylor Swift. E adoraria dizer que é engraçado vê-la “desaparecer” ou adaptar-se a um tema de um projeto que muito pouco tem a ver com ela, mas não: acontece o contrário, pelo menos com “Renegade”, a primeira de duas canções com a participação de Taylor Swift presentes no próximo álbum do projeto. Parece uma canção dela. E uma das melhores desta fase. Com um refrão filhadamãe.

Quanto a mim, vou continuar a andar por aí, que estou a gostar da viagem. Já lá dizia a outra: so hey, let’s be friends / I’m dying to see how this one ends. Medo, mas ok, vamos a isso.